Texto – Pedro Galego
Vila recebeu a distinção da UNESCO de braços abertos e com “muito orgulho”, mas com uma festa comedida face à pandemia.
Dia 15 de dezembro de 2021 vai ficar na história de Campo Maior. Pouco passava das 14h00 quando a 16.ª reunião do Comité do Património Mundial da UNESCO – que está a decorrer em Paris até sábado – anunciou a decisão favorável à candidatura que corria desde 2014.
“É um grande orgulho, mas sobretudo um prémio para quem faz e fez acontecer estas festas seculares. Um motivo de grande alegria e satisfação”, exaltou Luís Rosinha, presidente da autarquia de Campo Maior, visivelmente emocionado pelas notícias chegadas da capital francesa.
Com celebrações fortemente comedidas face às restrições da pandemia, alguns campomaiorenses juntaram-se no jardim da vila para entoar saias e tocar pandeiretas para assinalar o marco histórico ao saberem da decisão.
Tradição secular, e realizadas pela última vez em 2015, as Festas do Povo de Campo Maior são conhecidas por apresentarem dezenas de ruas, ‘engalanadas’ com flores de papel, feitas pela população de forma abnegada por forma a exprimir o orgulho dos habitantes de cada uma das artérias. São festas onde as flores “só nascem quando há vontade do povo”, sendo que este dia 15 de dezembro se fez Primavera.
“Este é o momento de celebrar, porque este povo merece esta distinção. Pela entrega, pelas tradições e pela vontade de fazer acontecer estas festas de forma tão única que agora é Património da Humanidade”, considera Vanda Portela, presidente da Associação das Festas do Povo, ansiando que Campo Maior possa celebrar verdadeiramente este marco com uma “grande” edição das Festas do Povo, que, realisticamente, só deverá acontecer em 2023, por culpa da pandemia. “O tempo de preparação necessário e a incerteza da Covid-19 faz com que pensemos com mais certeza em 2023 do que em 2022”, acrescentou Vanda Portela.
Do Povo e para o povo.
“Eu sou muito de bailar, mas é ao som do harmónio/
as nossas Festas do Povo hoje foram património”
Estes versos escritos para as saias cantadas por Damiana Grifo resumem na perfeição o sentimento de um povo. “É uma grande emoção. Toda a vida fiz parte das festas e estou muito feliz. Já nem sei em quantas participei”, disse à nossa reportagem a primeira campomaiorense a chegar com uma pandeireta ao Jardim Municipal de Campo Maior. Também a filha de Damiana, Conceição Quinta, acabou por se juntar à festa poucos minutos depois. “Nem consigo explicar a alegria que tenho em mim. Já era merecido”, remata.
“Uma família. Um espírito de união enorme. É nisso que Campo Maior se transforma para as Festas”, resume Sandra Lucas, também natural da vila raiana.
“É um grande orgulho. Era bom que pudéssemos fazer festas já no ano que vem, mas deve ser complicado”, considera Manuel Meira, que em tempo também foi cabeça de rua. “Vamos aguardar. Isto pode ser bom para dar ainda mais visibilidade à terra”, rematou.
De Costa a Nabeiro.
O primeiro-ministro, António Costa, foi um dos primeiros a endereçar publicamente os parabéns ao povo de Campo Maior com uma mensagem no Twitter: “Campo Maior e o Alentejo estão de parabéns! As Festas do Povo de Campo Maior são Património Cultural Imaterial da Humanidade. Merecido reconhecimento internacional para uma tradição que mantém vivo o espírito comunitário entre a população local”, escreveu o primeiro-ministro na rede social.
Também Graça Fonseca, em comunicado, exaltou o feito alcançado pelo Povo de Campo Maior.
“Todos os portugueses, em particular os alentejanos, estão, uma vez mais, de parabéns, por saberem manter viva uma das mais ricas tradições culturais portuguesas, justamente designadas Festas do Povo de Campo Maior […] enquanto manifestação popular de uma comunidade viva, têm um contributo muito especial das mulheres de Campo Maior, que trabalham de modo continuado nas suas flores em papel, passando esse testemunho às gerações mais novas e permitindo manter viva uma tradição em que todos os portugueses se reconhecem”, frisa a ministra da Cultura.
Nome incontornável de Campo Maior e do País, Rui Nabeiro também mostrou enorme felicidade pelo ‘selo’ que agora classifica as Festas da sua terra Natal. “Sempre fui um entusiasta das Festas. Não há nenhum campomaiorense que não está hoje felicíssimo. Estes homens e estas mulheres de mãos habilidosas para fazerem flores são extraordinários”, considerou o comendador e fundador do grupo Delta, recordando os tempos que as Festas contribuíam para abertura das fronteiras com Espanha, muito antes do cenário vivido nos dias de hoje.