Este maio teve lugar o primeiro Festival Literário – o primeiro festival internacional de Literatura e Língua Portuguesa, abreviado para 5L. O Museu da Farmácia recebeu algumas das conversas/encontros do festival, e deu-se ao luxo de celebrar os 130 anos do nascimento de Agatha Christie; debateu-se, inclusive, “O Silêncio”, do nova iorquino Don DeLillo. Quanto a autores nacionais, honrou-se Bocage, Fernando Pessoa, Saramago e os mais recentes (mas já não novidade) Afonso Cruz e Nuno Camarneiro.
Na faixa dos 30 (ou inferior) o cartaz menciona apenas Ana Bárbara Pedrosa, mas depressa a minha esperança numa abertura, na modernização dos maneirismos no círculo, se extinguiu: trata-se de outra académica, outra escritora sob alçada de um escritor da elite (Nuno Júdice), com quem se terá cruzado algures no seu percurso académico, hiperliterada.
Ter-se contactos no meio académico parece essencial para se ter cinco minutos de atenção na comunicação social e, a partir daí, para se conseguir ser aceite no seio da elite. Não faço questão de pertencer a esse meio, mas sinto que a língua, os livros, a literatura nacional, também são meus. Como tal, vi-me excluída do festival. Não o digo como escritora – nesse ponto, desconfio que a minha validação será sempre por parte dos leitores, coisa que prefiro –, mas como leitora.
Lamentei profundamente não existir uma única novidade acessível no cartaz do festival, algo que me fizesse sair de casa para escutar uma nova voz, uma nova perspetiva do ofício longe dos vícios da tal tradição de académicos.
Não houve um Nuno Nepomuceno, com o seu sucesso inegável nos thrillers, nem uma Iris Bravo, que tem o livro de estreia em 3º edição, nem uma Carla M. Soares, que escreveu sobre Lisboa e a pandemia de gripe espanhola, nem escritores representantes dos géneros fantasia, como os há com sagas extensas que agregam muitos leitores, nem Ricardo Correia, que honra a história nacional introduzindo-lhe twists impensados, nem os novos autores que têm vindo a lançar livros sobre inúmeros temas da atualidade, temas de interesse, temas que aproximam os portugueses dos livros e que trazem novos leitores para este mundo maravilhoso.
O catálogo dos organizadores destes eventos têm nomes muito exclusivos, e a atenção pelo potencial público é menosprezada em favor da consolidação dos nomes do costume.
Houve leitores que me vieram dizer que não iriam ao festival, porque o cartaz não lhes interessava: idem para mim. O cartaz não me interessou, por muito que dedique a minha vida aos livros e que um festival do género tivesse tudo para me tirar de casa.
É uma pena, mais uma oportunidade desperdiçada por parte das nossas entidades culturais de beneficiar o público, de o cativar. Ao invés, continuam a favorecer uma meia dúzia de representantes de uma literatura que não consegue chegar a um público vasto (tendo em conta os números em queda da compra de livros no país).
A minha luta não é nem jamais será contra os autores “favorecidos” pela elite. A minha luta é contra a elite que não permite ao país ler mais, ler também diferente. Por este caminho, jamais seremos um país de leitores.