O atual estado a que chegámos, na sequência das crises pandémica, económica ou social, é um estado que ninguém esperou vivenciar e que traz desafios sem precedentes para os setores agrícola e agroalimentar de todo o Mundo, e, naturalmente, também para os da Europa, onde os de Portugal não serão exceção.
Na tentativa de superar os tempos difíceis, a Comissão Europeia adotou várias medidas para apoiar os diferentes setores, entre os quais os setores agrícola e agroindustrial, tendo os diferentes países timidamente acompanhado e implementado aquelas e outras medidas. Por tal, a agricultura da UE responde e adapta-se às novas circunstâncias com persistência e resiliência, respondendo rapidamente, e ainda antes das referidas medidas, a problemáticas como sejam as esporádicas interrupções logísticas, mas que nos levantam, a todos nós, severas preocupações sociais e de abastecimento.
Mas as dificuldades surgiram a diferentes níveis, pese embora não sejam preocupações da sociedade em geral. A agricultura, em sentido lato, não pára, mas daqui a uns anos, no pós-crise, não será a mesma.
Há subsetores que abrandaram bruscamente em pouquíssimas semanas, como por exemplo o das flores e plantas ornamentais, o dos pequenos frutos, o do vinho, o dos leitões, o do queijo de pequenos ruminantes.
Por diferentes motivos, é certo, e alguns estão a reinventar-se, também em pouquíssimas semanas. A pequena distribuição mudou, o perfil de consumo mudou, em algumas explorações redefiniram-se estratégias e produções, quer no setor animal como no vegetal. Mas a mudança não ficará por aqui.
Os setores agrícola e agroindustrial são, talvez, os mais resilientes ao longo dos anos. Na crise que antecedeu a atual, no final da primeira década do presente seculo, mesmo quando os apoios ao investimento tardaram em chegar aos empresários e o consumo caiu para níveis nunca até então lembrados, foi com a procura de novos mercados que o agroalimentar se reinventou e conseguiu ser dos poucos setores em contraciclo, ou seja, em crescimento, durante vários anos, acima da média da restante atividade económica. De tal forma que muitos, até aí pouco atentos, descobriram um setor económico pujante, dinâmico e que não conheciam. A agricultura passou, a “estar na moda”!… o que não significa que, em tudo, tal seja positivo!
Mas, associada a esta enorme resiliência, está também por vezes alguma resistência à mudança, uma certa pouca habilidade, não só dos empresários, mas também dos decisores políticos nacionais e europeus. Ambos também com alguma dificuldade em definir uma robusta, eficaz e verdadeira Politica Agrícola Comum, do interesse de todos os países europeus como um todo, sucumbindo na maior parte das discussões à “lei” dos interesses imediatos da individualidade de cada um.
O setor sairá tanto melhor desta crise quanto melhor souber ser disruptivo e consiga, de novo, reinventar-se. Depois da busca por novos mercados e produtos e de significativos avanços tecnológicos e científicos, deve agora explorar novas formas de comercialização, de comunicação, de digitalização, de sustentabilidade, de logística e de compromisso.
De compromisso politico e de politicas, internas e externas à própria União Europeia. De compromisso com o consumidor e as novas tendências de consumo, pré e pós crise. De compromisso ambiental e de sustentabilidade, Adaptação para chegar a melhores dias. Considerandos afirmando-se como primeira linha de “peso” no anunciado Green Deal europeu. E esse é um grande desafio lançado pela Comissão, e já bem reafirmado pela sua Presidente, Senhora Ursula von der Leyen, no decurso da atual crise.
O Green Deal e as suas metas são o grande compromisso europeu para as próximas décadas, e não haverá recuo. Saibam os setores agrícola e agroindustrial serem os verdadeiros motores dinamizadores do atingir dessas metas, pois há capacidade para tal por parte de todos os stakeholders e de todas as fileiras agrícolas, e aproveitar tal capacidade, no sentido de liderar o processo e exercer influência positiva junto dos decisores. Certamente que toda a cadeia de valor sairá a ganhar: do produtor ao consumidor, com um assertivo, verdadeiro e decisivo lobby agrícola europeu.
Revela-se também absolutamente necessário evidenciar à sociedade em geral, agora e no futuro imediato, o que de bom se tem feito e faz nestes setores, que conseguem quase sempres aliar produção com ambiente ou economia com sustentabilidade, procurando sempre a conciliação de melhores níveis de vida – desde as origens rurais, às escolas e às mais modernas e cosmopolitas sociedades citadinas.
É imperativo, portanto, que os setores agrícola e agroindustrial não se esqueçam de comunicar. E é necessário que comuniquem mais e, sobretudo, que comuniquem melhor e que saibam comunicar e “marketizar” a nova “industrialização” agrícola que está em curso. E só assim se ganhará proeminência e relevância junto de toda uma sociedade global, de consumo, e com novas preocupações.
Há que saber acompanhar e evoluir… LIDERANDO!