Um conceito
Empreendedorismo. Palavra escutada. Prática difícil. Necessidade elevada.
Empreender. Num ambiente económico, social e político não amigável, não raro adverso, criar, expandir, ou simplesmente manter uma empresa. Percecionar necessidades e encontrar mercados. Organizar e combinar recursos humanos, materiais e financeiros, realidades tangíveis ou intangíveis, de forma eficiente e eficaz, para produzir bens ou serviços, a preços razoáveis, criando valor para quem empreende, para quem investe, para os clientes, fornecedores, empregados e comunidade em geral.
Investir, aproveitar e gerar oportunidades, criar conceitos, inovar, ser diferente.
Tudo isto, assumindo ou procurando mitigar riscos, navegar na incerteza, planear sem toda a informação disponível, decidir num espaço-tempo de imponderabilidade.
E fazer tudo isso com ética e no respeito da lei.
Uma atitude
E… imaginem, empreender em plena crise pandémica, numa múltipla dimensão sanitária, económica e social.
A minha vénia para os nossos empreendedores, em start-up, em micro, pequenas, médias ou grandes empresas. Sim, também em grandes empresas, pois, como diz o povo, quanto maior a nau maior a tormenta e, nunca é demais lembrar, os grandes projetos são âncora e mercado para as PME que para eles fornecem. Mas, naturalmente, exige-se especial vontade, arrojo, tenacidade e espírito de conquista, a quem começa, a quem trilha o caminho, a quem desbrava territórios inexpugnados.
Procurar “ganhar dinheiro”, numa sociedade que ainda não se libertou completamente de um complexo em relação ao lucro.
Ter sucesso num contexto social em que a inveja sobre o que o outro consegue, supera não raro o reconhecimento do esforço e privação por que esse outro terá passado.
Lançar ou manter estabelecimentos, em situações de licenciamento moroso e labiríntico duma má burocracia à mercê de pequenos poderes de quem nunca arriscou e apenas vive à sombra duma tutelar designação política ou no conforto duma remuneração certa no final do mês.
Criar ou manter emprego, propiciando a outros a realização e a dignidade pessoal que só o trabalho permite, num contexto em que, não raro, alguns apenas agradecem a receita fiscal e parafiscal que direta e indiretamente o salário permite.
Investir, que implica financiar o negócio com meios próprios, ou através de dívida. E tem de se criar valor acrescentado após suportar os inputs básicos, remunerando o trabalho, suportando o juro, pagando o IRC, gerando excedentes para pagar o capital em dívida e… já agora, remunerar decentemente o capital próprio investido. Só possível com um bom negócio, ou que assim se torne com uma lúcida, criativa e saudável gestão. E apesar do acervo científico da gestão, não há um padrão único para tal, nem a tecnologia criou um piloto automático para o efeito. O ser humano, a sua qualidade, o mérito, o esforço, as competências, continuam a ser o factor-chave do sucesso.
Ah, pode haver sorte! Mas deve-se saber aproveitá-la e… transformar um evento feliz e fortuito numa condição de viabilidade sustentável.
Um querer
Ser empreendedor em Portugal, hoje, é renovar o espírito dos navegadores de quinhentos. É acreditar no sucesso no meio da turbulência. Como escreveu Fernando Pessoa, “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.
(*) Lisboa, Fevereiro de 2021
João A. S. Cipriano