Vivemos um presente-futuro em mutação permanente, com uma velocidade não humana do ambiente digital no qual, antes de dominar plenamente uma aplicação, já temos no mercado uma nova versão… a um ritmo nem sempre compatível com os tempos sensoriais e de apreensão próprios do ser humano comum. E não conseguimos estar sempre em conexão táctil…
Recordo uma entrevista na TVI feita por Miguel Sousa Tavares ao professor José Manuel Tribolet, presidente do INESC (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores), ocorrida em abril de 2020, a propósito da aplicação Stayaway Covid (excelente e inaproveitada ideia, desbaratada com uma absurda pretensão de obrigatoriedade generalizada…), em que o jornalista suscitava os perigos da era digital para a privacidade e a segurança dos cidadãos. Reconhecendo não existirem sistemas perfeitos, José Tribolet referiu que pretender evitar a inexorabilidade do mundo digital, será como querer “parar o vento com as mãos”. Porque a evolução não pára.
Na emergente era digital, para que inovação, competitividade, crescimento sustentável, não sejam apenas palavras-chavão de moda, enfrentemos os desafios do conhecimento. Requere-se ensino, formação, aprendizagem. Com humanismo.
Porque a camada do nosso conhecimento básico lá de trás há muito foi superada por novas formulações e paradigmas e não podemos ficar excluídos, continuemos a aprender.
Porque temos de fugir da carneirada mental de tudo aceitar sem questionar, preservando as nossas faculdades básicas de raciocínio, cálculo, intuição, dedução, cultura. Os exemplos da filosofia, da lógica, da ética, da matemática, da língua materna na qual pensamos (a par da língua inglesa em que a tecnologia opera), da literatura ou da história que nos ajudam a perceber o que somos, aí continuam para nos alimentar a mente.
Porque acesso a informação não é sinónimo de conhecimento. Precisamos de compreender, comparar, filtrar, classificar, selecionar, interrogar conteúdos que nos chegam pela via digital.
Porque o digital penetra todas as atividades e funções das nossas vidas e das vidas das nossas organizações, renovemos competências e ferramentas, o que faremos tanto mais facilmente quanto mais estivermos mentalmente apetrechados.
Para que a sociedade digital não nos transforme em peões de um qualquer big brother, ou em infra criaturas de um pretenso admirável mundo novo. (Re)aprendamos com as antevisões de Orwell e de Huxley e reforcemos a nossa consciência.
Porque, mesmo com a tecnologia, a iniciativa e a liderança são atributos essenciais das pessoas no contexto empresarial (dentro das designadas softskills…).
Porque o software precisa de hardware. Não esquecer que sem cabos submarinos não existiria a gigantesca rede de fibra através da qual fluem os dados. Ou que sem satélites concretos no espaço não existiria GPS. Entre outras, a física, a química, ou a eletrónica, são ciências fundamentais para o funcionamento do mundo digital.
Porque nas empresas a tecnologia não opera sozinha. Precisamos da computação. Mas também da gestão, do marketing, da estratégia, das finanças, da fiscalidade.
Agarremos o digital, mas sem esquecer que o maior software do empreendedorismo está nas pessoas. E… no digital, há os que criam, inovam e desenvolvem… e há os que apenas usam, consomem e… pagam.
Com atualização permanente, procuremos adquirir segurança na incerteza da mudança tecnológica.
Como afirmou Isaac Asimov, “Se o conhecimento pode criar problemas, não será através da ignorância que os resolveremos.”
João A. S. Cipriano
Março de 2021