Ana Martins – Texto
Sónia Rodrigues – Fotografia
São mais de 1 000 os empresários do novo “Núcleo Empresarial do Alto Alentejo”
“Queremos representar todos”, garantem. Da Aeronáutica ao Cabeleireiro. Mais de mil empresários unidos em torno do Núcleo Empresarial da Região do Alto Alentejo, sem perda de identidade e com os olhos postos na partilha de oportunidades, em prol da valorização económica deste território.
Quase a cumprir oito meses de existência, o NEAA – Núcleo Empresarial da Região do Alto Alentejo, é já o maior núcleo empresarial do distrito de Portalegre, com mais de mil empresários de Ponte de Sor e de Elvas.
A 19 de outubro de 2020, as associações ACIPS – Associação Comercial e Industrial de Ponte de Sor e a AEE – Associação Empresarial de Elvas uniram-se e criaram o NEAA.
Elvas e Ponte de Sor têm a mesma visão estratégica
De acordo com João Pires, Vice-presidente do NEAA e Presidente da AEE, Elvas e Ponte de Sor têm a mesma visão estratégica e, isso, promoveu a simbiose destes dois organismos na procura de um futuro associativo e económico mais promissor para ambos os territórios e para a região, em geral.
“São duas associações com dinâmicas muito diferentes. A força de Ponte de Sor, a nível empresarial, é muito superior à nossa (Elvas), uma vez que têm uma zona industrial que mete inveja a qualquer concelho do Alto Alentejo”, observa.
Contudo, as diferenças no tecido económico não impedem a união, pelo contrário, podem e devem ser complementares.
“Não é por Ponte de Sor estar tão avançada nessa área que deixam de ter as mesmas dificuldades e problemas que nós (Elvas), concretiza João Pires.
Mais de mil empresários de vários setores
Os mais de mil empresários, que nesta primeira fase, constituem o NEAA são representativos de todos os setores de atividade económica da região do Alto Alentejo.
“Os setores de atividade são os mais variados, desde o agricultor ao pequeno empresário, ao serviço. A junção destas duas associações, e é daí que advêm os mais de 1200 associados, são os de Elvas e os de Ponte de Sor juntos, que por inerência ficaram logo ligados a este novo Núcleo”, explicou o Vice-presidente.
Da aeronáutica ao cabeleireiro
“O NEAA resulta da simbiose de duas associações, que por incrível que pareça ainda se consegue fazer no distrito, uma a norte e outra a sul, com a ambição de querer fazer um organismo com peso e força. Cada uma sozinha tem menos força do que se estiver integrada num Núcleo.
“Não somos associações setoriais, abrangemos tudo, desde a aeronáutica ao cabeleireiro”, assegurou, João Pires.
Nos últimos meses, desde o início da sua fundação, o NEAA tem feito um percurso cauteloso, mas consciente das suas prioridades.
“Temos registado um crescimento, mas nada significativo devido à pandemia. Porque o próprio NEAA é fundado a 19 de outubro, mas começa a dar os primeiros passos há um ou dois meses, porque de lá para cá foi quase impossível trabalhar.
Hoje em dia, as plataformas digitais facilitam muito, mas o contato direto, nomeadamente com os empresários, continua a ser muito importante.
Estamos a dar os passos que são possíveis. Fizemos o lançamento, apresentámo-nos institucionalmente à CCDR (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo) e à CIMAA (Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo), onde estavam todos os presidentes de Câmara do Alto Alentejo.
Um dos objetivos do NEAA é criar um polo em cada concelho do distrito, ou seja, que o NEAA esteja representado com um pequeno escritório, no qual possamos em conjunto com as autarquias e empresários, dar os primeiros passos”.
“Na reunião com a CIMAA já houve contatos com os Presidentes de Câmara que manifestaram muito interesse. Já abrimos o polo do NEAA em Portalegre, Alter do Chão, Elvas e Ponte de Sor, que por inerência ficaram logo abertos aquando da criação da NEAA.
Temos contatos para abertura de mais dois polos que manifestaram interesse imediato, como o caso de Gavião”, explicou o vice-presidente do NEAA.
“Queremos democratizar, a nível distrital a informação, as oportunidades, onde contamos com o apoio das autarquias, através da criação de polos”, complementou.
“Não podemos ter capital humano e económico a sair do distrito”
Quando questionado sobre a possibilidade do NEAA, gerado no seio de apenas duas associações empresariais – Elvas e Ponte de Sor – poder efetivamente ser representativo da região do Alto Alentejo, João Pires é perentório na resposta.
“Alguém tinha de dar o pontapé de saída. Por exemplo, Gavião, Castelo de Vide, Nisa, Alter do Chão, Monforte e Campo Maior não têm uma associação empresarial. Desta forma, os maiores empresários do distrito vão-se juntando a outras associações. Os mais a norte juntam-se a Castelo Branco, os mais a sul a Évora e Santarém. E isto não pode acontecer. Nós não podemos ter capital humano e económico a sair do nosso distrito e a levar mais valias para outras regiões”, ilustrou o responsável.
João Pires explica que “o pequeno empresário tem o problema de falta de informação, não sabem das linhas de crédito e linhas de apoio, nomeadamente agora no âmbito do covid. É grave quando no início havia linhas de apoio ao covid, havia dinheiro e as pessoas não sabiam a quem recorrer.
É esse papel que o NEAA quer ter com o grande, o médio, o pequeno e o microempresário. Daí na sua génese, os associados de Elvas e Ponte de Sor, estão todos dentro deste Núcleo para não haver distinções.
O cabeleiro, por exemplo, não vai ter possibilidade de pagar a quota do NEAA, que é avultada, podendo oscilar entre os 400 e 600 euros anuais, mas tem a possibilidade de pagar a quota de uma associação como a nossa (mínimo 60 euros e máximo 180/ano) e tem acesso à informação de igual modo e tem a mesma representatividade”, exemplificou.
“Os principais players de cada região estão representados no NEAA”
Quando contatados pelo novo Núcleo Empresarial da região do Alto Alentejo, os empresários têm reagido de forma positiva e interessada.
“Todos aqueles com quem temos contatado têm reagido muito positivamente. Já temos empresários associados que serão divulgados oportunamente e que representam grandes empresas do distrito. No caso da Associação de Elvas temos a Delta Cafés, a Alempack, Telefac, Armazéns Marvanejo, Carnalentejana DOP, por exemplo.
Na ACIPS temos todo o cluster aeronáutico e as grandes empresas existentes em Ponte de Sor ligadas à agricultura. Os principais players de cada região estão representados no NEAA”.
Entre os principais objetivos deste Núcleo conta-se o contributo para uma maior e melhor representatividade dos vários setores de atividade em várias dinâmicas económicas, como afirma João Pires.
“Queremos ter uma representatividade a nível distrital e regional mais forte. Só Elvas ou Ponte de Sor, apesar de termos algum peso, temos muito menos separadas que os 1200 que contabilizamos juntos (60% Ponte de Sor e 40% Elvas)”.
“Através do NEAA temos a possibilidade de ir a fundos estruturais que como associação não temos. Como Núcleo temos logo uma panóplia de fundos e abertura de possibilidades de outra dimensão”.
João Pires concretiza a estratégia pensada: “Por exemplo, como associação (AEE) nós conseguimos ir a meio milhão de euros no projeto Formação-Ação para as empresas do nosso concelho. Ponte de Sor foi pouco mais de um milhão. Como Núcleo, quando tivermos essa possibilidade, podemos alcançar quatro ou cinco milhões, porque quando nos candidatarmos avançamos com 1500 ou 2000 empresários e não com 400 ou 500 empresários e a força é diferente”.
À espera da “bazuca” europeia
Atualmente, o Núcleo não tem ainda qualquer planificação de investimento ou candidaturas a concurso muito por conta do cenário de pandemia.
Contudo, o NEAA está atento ao Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), a chamada “bazuca” europeia, que trará riqueza para as empresas nacionais.
No âmbito deste programa de ajuda europeia, Portugal vai receber 16.643 milhões de euros, sendo 13.944 milhões de euros financiados através de subvenções (dinheiro a fundo perdido) e 2.699 milhões de euros através de empréstimos.
Para as empresas, o Governo disponibiliza cinco mil milhões de euros.
O programa empresarial com maior reforço de fundos é do da “capitalização das empresas” que antes tinha destinado uma verba de 1.250 milhões e agora vai passar a ter um total de 1.550 milhões, ou seja, terá um incremento de 300 milhões.
Estas são as outras gavetas com dinheiro que irá diretamente para as empresas:
• Inovação = 1.364 milhões
• Qualificações de Recursos Humanos = 630 milhões
• Descarbonização = 715 milhões
• Bioeconomia = 145 milhões
• Transição Digital = 650 milhões (fonte Lusa Abril de 2021)
João Pires assume que aguardam com expetativa a chegada da “bazuca” europeia. Entretanto, traçaram objetivos de investimento.
“Não temos nada agendado, porque estas coisas vão surgindo. Está tudo ainda muito parado devido à dita “bazuca” que está ainda por vir. A AEE vive das cotizações, do apoio da autarquia, mas quando pretendemos candidatar-nos a projetos mais robustos, não temos estrutura económica nem física.
Como núcleo vamos poder desenvolver projetos para todo o território do Alto Alentejo. Temos de pensar regionalmente, distritalmente”.
De acordo com a direção do novo Núcleo Empresarial da Região do Alto Alentejo, através da voz de João Pires, todos se devem sentir representados por este novo organismo, sem exceção.
“O caminho é este: Que o NEAA represente todos e aqui não estamos a excluir ninguém, inclusive o NERPOR, no dia em que se quiser associar a nós tem a porta aberta”.
A Associação Empresarial da Região de Portalegre NERPOR- AE, foi criada há 36 anos, na cidade de Portalegre e era a única existente antes do surgimento do NEAA.
O Núcleo Empresarial da Região de Portalegre apresenta como objetivos “a promoção do desenvolvimento das atividades económicas do distrito de Portalegre nos domínios técnico, económico, comercial e associativo, e em especial assegurar aos seus associados uma crescente participação nas decisões e nos programas que com essas atividades se relacionem”.
Na sua página oficial, o NERPOR informa que “atualmente a NERPOR-AE conta com 197 associados de todos os sectores de atividade económica, estendendo todas as suas ações às empresas da região, independentemente de estas serem ou não associadas”.
O NERPOR assume-se “como uma entidade associativa de grande importância na defesa, não só dos interesses dos empresários, como também dos interesses regionais, numa perspetiva mais global”.
Contudo, os empresários e dirigentes associativos, nomeadamente os “pais” do NEAA têm uma opinião bem diferente do trabalho desenvolvido ao longo de décadas por este organismo.
“Nós o que sentíamos é que não havia ninguém que nos representasse a nível distrital. Ao não estarmos de acordo com a forma como o NERPOR está a fazer a gestão deste território empresarial, as duas associações – Elvas e Ponte de Sor, saíram e revogaram o protocolo que tínhamos com eles”, informou João Pires.
Até à data, entre o NEAA e o NERPOR não houve qualquer interação ou diálogo, assegurou o mesmo responsável.
“Não tivemos qualquer feedback por parte do NERPOR. Nós nunca faremos nada que vá contra os objetivos distritais dos empresários. Não há qualquer rivalidade, porém o NERPOR vai fazer o seu caminho e nós fazemos o nosso”, concluiu.