O trabalho precário é uma realidade em Portugal. Estou a falar de trabalho realizado sem contrato, sem benefícios – décimo terceiro e décimo quarto salários, segurança social, IRS, direito a exigir pagamento por horas extras, direito a folgas, etc. – e também sem a segurança adequada, seja quanto a possíveis acidentes de trabalho, seja o conforto de um subsídio de desemprego caso as circunstâncias o exijam.
Posto isto, diria que muitas empregas domésticas são trabalhadoras precárias, e bastante vulneráveis posto que à lista de desvantagens acima, se soma ainda, em boa parte das situações, circunstâncias de desfavorecimento social e ou poucas habilitações escolares o que, só por si, já acarreta uma série de limitações para algumas destas trabalhadoras.
Posto tudo isto, lamento pela empregada doméstica de Liliana Aguiar.
Do breve vídeo que circulou desta última a queixar-se da deserção da empregada, subentendi duas coisas muito importantes: a primeira é que esta patroa não fazia ideia do trabalho que a empregada tinha, porque de repente diz que ficou sem tempo para nada ao assumi-lo.
A segunda é que, mesmo tendo agora consciência do volume de trabalho da empregada, e sabendo que é uma privilegiada a falar contra uma classe desprotegida, não está agradecida pelos serviços que a empregada desempenhava.
Pelo contrário, parece rancorosa e levanta suspeitas quanto à índole da desertora. Deixo a questão: seria assim tão fantástico trabalhar e receber para isso na casa da Liliana Aguiar, para uma empregada doméstica ter de “premeditar” a fuga? Fica a reflexão.