Ana Martins e Sónia Rodrigues
A empresa do setor agrícola, localizada no concelho de Elvas, saltou da venda de hortaliças nas bancas dos mercados locais para a produção de azeite e azeitona com marca registada: Agro Lanternas. Um trabalho que começou há várias décadas e que se consolidou com a introdução de novas técnicas de gestão e com o espírito empreendedor que tocou avós, pais e filhos.
A empresa Agro Lanternas tem sido erguida, no concelho de Elvas, ao longo de três gerações.
Nos últimos sessenta anos, a empresa de cariz familiar na sua génese, tem vindo a conquistar o seu espaço no mercado nacional e até internacional.
Tudo começou com o patriarca, Herculano Lanternas, que através da prática de uma agricultura tradicional, numa produção familiar, incutiu nos seus filhos – Joaquim e Constantino – o gosto pela terra e transmitiu-lhes os seus segredos.
Herculano era um conhecido “hortelão”, na zona de São Brás, a escassos três quilómetros da cidade hoje Património da Humanidade da UNESCO, que vendia nos mercados o que cultivava na sua horta.
Patriarca Herculano Lanternas é inspiração para o crescimento da empresa
Atualmente, a Agro Lanternas é proprietária e cultiva em 292 hectares de terreno distribuído por quatro quintas, todas no concelho de Elvas.
O olival, pomares de citrinos e frutas diversas, como alperces e ameixas, campos de melão e melancia, hortaliças várias e amendoal são as principais áreas de produção.
A família tem cerca de 80 hectares de olival intensivo, no concelho de Elvas. O ano passado (2020) produziu cerca de 20 mil litros de azeite. Também a azeitona de mesa é comercializada.
Família tem cerca de 80 hectares de olival intensivo
O Azeite, a par da azeitona que lhe dá origem, da Casa Agro Lanternas é marca registada, desde o final de 2020, tendo desenvolvido uma imagem distintiva e embalagens diferenciadoras, que permitem colocar os produtos nas prateleiras de supermercado, no mercado externo e apresentar-se perante o consumidor com confiança na qualidade e competitividade do produto.
“Para além do mercado nacional, o nosso azeite é comercializado em França, Bélgica, Luxemburgo e Espanha. Toda a nossa produção é escoada e até esgotada antes do início da nova campanha”, refere Leonardo Lanternas, sócio-gerente da empresa.
O caminho para colocar os produtos nas prateleiras dos principais supermercados nacionais ainda é longo, mas nas pequenas superfícies já se pode encontrar o azeite e azeitona da família Lanternas.
“Nós não tínhamos nada, nem código de barras nos nossos produtos. Foi um longo caminho até aqui para registar a marca, embalar e rotular. Para já, temos o nosso azeite e azeitona numa pequena superfície em Puebla de la Calzada, um município da Espanha na província de Badajoz. Mas o nosso objetivo é alcançar mais”.
Em 2020, a Agro Lanternas produziu 20 mil litros de azeite
A azeitona de mesa pode ser encontrada em praticamente todo o país, “com particular incidência em Lisboa e Algarve, bem como em Espanha”, enumerou o elemento mais novo da direção da empresa.
A Agro Lanternas é proprietária do olival, responsável pela colheita da azeitona e o processo de transformação em azeite é realizado numa cooperativa, em Vila Boim, no concelho de Elvas, onde é também devidamente embalado e rotulado em vários tamanhos.
Vários produtos são marca registada
Marca registada são também as leguminosas (feijão seco e grão-de-bico) e a caminho vai a massa de pimentão.
Produção Biológica “trará perdas de produção acentuadas”
A produção de azeite não é biológica, mas a empresa está empenhada em equacionar a transição, embora reconheça que a mudança trará “perdas de produção acentuadas”.
“Produzir um azeite totalmente biológico irá trazer-nos perdas de produção muito acentuadas, contudo o nosso produto é quase 80% biológico, uma vez que reduzimos muito o uso de adubos e pesticidas e já fazemos muita transformação nos nossos olivais”, justifica Leonardo.
O mesmo responsável adianta ainda que “ainda não se falava em proteção integrada dos solos e em biológico e já nós tínhamos uma máquina de trituração da rama para fazer a decomposição e subir a matéria orgânica nos solos dos nossos olivais”, lembra.
“Há vinte anos que não uso adubos à base de nitratos”
“Há vinte anos que não se usam adubos à base de nitratos, usamos mais compostos de libertação lenta. Com isso já me preocupei há muito tempo e, por isso, é que hoje estamos aqui”, acrescenta.
“Acredito que o biológico vai ser uma transição neste quadro comunitário. Já temos algumas parcelas de olival que vão entrar em produção biológica, mas não todas”, remata Leonardo Lanternas.
O saber, o trabalho e a capacidade de investimento têm sido fatores importantes para o crescimento desta marca alentejana.
Constantino Lanternas, 74 anos, tem toda a sua família a trabalhar na empresa: esposa, filhos e irmão.
“Trabalhamos há muitos anos juntos e temos orgulho em nos entendermos bem. Fomos aumentando a nossa produção com muito trabalho e vontade de investir, porque transformamos terrenos incultiváveis (com pedras e árvores velhas) em terras férteis, com renovação de grande parte das nossas árvores.”
A Agro Lanternas tem vindo a conquistar novos mercados, mas mantém a tradição da venda em mercados locais, onde privilegia o contato direto com o consumidor, como faz questão de lembrar Joaquim Lanternas.
“Nós cumprimos a tradição antiga da seara de melão, da melancia e da meloa, porque temos muito a venda direta ao consumidor, através dos mercados locais. É já uma tradição de 60 anos, que o meu pai fazia e nós fazemos questão de manter, da mesma maneira que preservamos o gosto e cultivo dos produtos hortícolas, a herança do nosso pai”.
A empresa preserva o saber ancestral da família.
“Temos feito pomares novos, tanto no olival, como na área dos frutos, citrinos, alperces, ameixas, hortaliças, amendoal”, enumera Constantino.
As laranjas, que são a imagem identificativa da Agro Lanternas, têm também um papel relevante. Estão plantados cerca de 10 hectares de laranjal que produzem 300 toneladas deste citrino.
Leonardo Lanternas: A 3ª Geração da família
Leonardo Lanternas, de 44 anos, pertence à terceira geração da família, tendo-se formado como jovem agricultor.
Queria ir para a marinha, mas o tio Joaquim fez a pergunta certa na altura exata.
“- Então e a agricultura?”, conta. Desde então fez o percurso ao lado da família, aprendendo das suas experiências e nas formações do setor agrário que foi fazendo.
Uma das apostas mais recentes é a produção de amêndoa, numa diretiva mais industrial da empresa.
Um laranjal foi transformado num amendoal intensivo na ordem dos dez hectares, no concelho de Elvas.
O toque de modernidade tem uma explicação ambiental, afastando o circuito de produção da monocultura, e também um objetivo económico:
“Apostar na variedade de culturas permite manter um quadro de pessoal especializado o ano inteiro. Com o amendoal, a colheita é feita um mês antes da azeitona e isto permite-nos aproveitar todo o equipamento e recursos humanos, num mesmo espaço de tempo. Por outro lado, compensa a época baixa de receitas, entre finais de agosto e início de setembro”, explicou à “Empreendedores”, o agricultor.
O amendoal é para já uma experiência para a Agro Lanternas, mas a produção existente já tem escoamento garantido.
“Se a experiência for bem-sucedida contamos em alargar a produção. Temos uma parceria com o Agrupamento de Produtores de Amêndoas de Elvas que garante o escoamento de toda a nossa amêndoa”.
Conscientes da importância da inovação e conquista de novos mercados, anualmente a agro lanternas investe dez por cento da sua faturação.
“Temos um investimento anual de 100 mil euros. Na Agro Lanternas temos tido sempre a política de investir dez por cento do que faturamos, em novas plantações, culturas e tecnologia”, referiu Leonardo.
No caminho do futuro há vários desafios que se colocam à família de empreendedores no setor agrícola: a aposta na produção de multiplicação de sementes biológicas e a implementação de um sistema de rega fotovoltaica dos campos agrícolas.
“Fazemos prestação de serviços a uma multinacional: a Syngenta e a Fertiprado. Com eles fazemos multiplicação de sementes nos nossos campos. Vamos fazer agora uma multiplicação de sementes biológica para a marca Syngenta, em Elvas. Trata-se da primeira fase e é experimental”.
A rega fotovoltaica dos campos agrícolas é também um dos principais projetos e investimentos da Agro lanternas num futuro próximo.
“De há dois anos a esta parte fizemos um grande investimento a nível de equipamentos para a nossa empresa. O novo projeto a desenvolver nos próximos anos passa pelas energias renováveis: o sol”, anunciou.
“O nosso objetivo é que dentro de três ou quatro anos possamos ter a rega, através do sistema solar. A empresa gasta muito em combustíveis fósseis e eletricidade. Com a utilização da rega fotovoltaica nos nossos campos agrícolas, iremos converter todo o sistema de rega para o uso da energia solar”, adianta.
Leonardo Lanternas ambiciona nos próximos anos construir uma empresa “mais competitiva, produtiva e que seja rentável para suportar um quadro de doze colaboradores, que em certas alturas chega aos vinte trabalhadores”.
A terceira geração, através de Leonardo, leva a empresa, através dos olhares atentos do pai e tio, Constantino e Joaquim, para caminhos mais ambiciosos, mas sem nunca esquecer a origem e a herança da tradição do bem fazer de forma sustentável e, sempre, com respeito máximo pela terra e ambiente.