Tenho sentido, ao longo dos meus anos na escrita (e já lá vão dez) que, de um modo ou de outro, há uma série de nomes que acabam por ser beneficiados neste universo.
Falo dos omnipresentes nos eventos literários do país, aqueles a quem são dadas todas as oportunidades de divulgação, de debate, de criação.
Não me parece que haja um grande esforço das organizações para promoverem vozes diferentes, rostos com mensagens novas.
Por quatro vezes tentei a Bolsa de Criação Literária da DGLAB. Penso que não seja suficientemente boa a elaborar projetos para que possa figurar entre os abençoados com a dita cuja.
Ao invés, é frequente que todos os anos um ou outro escritor já conhecido e consolidado receba uma dessas oportunidades de ser remunerado para se dedicar integralmente à escrita durante 6 ou 12 meses: um privilégio que não assiste a todos.
Posto que, uma vez mais, os júris são muitas vezes “colegas de profissão”, torna-se difícil acreditar se quem arrebata estas oportunidades são de facto os que mais se empenham nas candidaturas e nos seus projetos, ou aqueles que se sentaram nos festivais literários do costume ao lado do júri habitual.
Aqui gostaria de esclarecer que não considero que os escritores beneficiados com as oportunidades façam algo para serem favorecidos. Penso é que os júris pecam na imparcialidade, mas isso é defeito crónico neste país, e em todas as áreas.
Acredito piamente que o país não se encontra num patamar diferente de desenvolvimento porque não vemos indivíduos nem o seu potencial, mas sim contactos. Isto não é exceção na cultura.
Não penso que a literatura seja um assunto de uns poucos iluminados, mas também não acho que qualquer um tenha capacidade de escrever um romance: ou, mais importante ainda, que tenha de facto algo a dizer que faça alguma diferença ou que nos abra horizontes sobre algum assunto.
A maioria dos romances são revisitações de histórias, situações e dilemas bem conhecidos de todos. Quase todos os clássicos têm em comum a originalidade de um ângulo sobre um assunto.
Dizia Saramago, numa entrevista, que vê a leitura como a busca de algo que deve estar acima das nossas capacidades. Para que possamos sair daquilo que já nos é familiar, a fim de que se dê alguma aprendizagem.
Não faz sentido ler-se sobre conhecimentos de que já dispomos. E eu concordo. Posto isto, fará sentido chamar-se sempre as mesmas vozes ao debate?