Era este, parte do panorama, hoje, 3 de Fevereiro, na Praça Duque de Saldanha, em Lisboa, à hora de almoço.
Nas televisões, rádios, jornais e restantes media, os porta-vozes das autoridades e políticos asseguram: estas acções, nesta altura de pandemia são, essencialmente, para fiscalizar o confinamento.
Desenganem-se. PSP e GNR têm objectivos claros de facturação, quais Departamentos Comerciais das empresas.
Hoje foi dia de caça ao incauto. Até os já muito penalizados pela precariedade do seu trabalho, os distribuidores de comida, foram alvo da fúria policial, como se observa nas imagens que recolhemos no local. Talvez estivessem com fome, mas … era de dinheiro.
O autor destas linhas, é a primeira vez, em 34 anos de jornalismo, que escreve em causa própria. Declaração de interesses: fui multado, injustamente.
Bastou o agente, neste caso, com galões de Tenente mas que fez questão de ser tratado por “Chefe”, vislumbrar durante a abertura do local onde, habitualmente, transporto os documentos, a Carteira Profissional de Jornalista, para ser visível o cínico sorriso por detrás da máscara. O Sr. “Chefe” tinha perante si um “Troféu” para levar hoje para a Esquadra e para contar em casa. “Multei um desses jornalistas que julgam que sabem tudo”. É assim que muitos pensam, e por vezes, nem ficam por aí. Frases sem nexo, nem sentido!
Mas se apenas o episódio fosse este, ainda se toleraria, embora com muitas reticências. Mas à ausência de um simples boa-tarde, juntou-se-lhe a arrogância, frieza e abuso de autoridade. O tema era a inspecção automóvel que estava fora de prazo por dois dias (Domingo passado). É verdade. Mas, lembrei-lhe, que estávamos em confinamento e que nem sempre é possível os Centros de Inspecção fazerem o trabalho com a mesma celeridade, por razões mais do que óbvias.
Mas, para o “Chefe”, “todos têm desculpas”, quando lhe garanti que não me foi possível marcar antes a inspecção. “Tivesse-a feito há três meses”, afirmou do alto da sua prepotência insuflado pela farda que, ainda não descobriu, com certeza, devia dignificá-lo.
Como se não bastasse, pegou nos meus documentos sem qualquer protecção ou desinfecção de mãos e levou-os para junto da “caixa registadora”. Ali, colocou-os em cima do tampo da bagageira do veículo policial.
Ao aproximar-me, outro agente levantou o seu portátil e os meus documentos, sem cuidado nem sinais de higienização, nem preocupações por estar a amarrotar os de papel. Perguntei se tinha as mãos desinfectadas. O que fui perguntar! Levantou o tom de voz e disse que sim, mas não se vislumbrava nenhuma embalagem de qualquer gel alcoólico. Talvez estivesse no veículo.
Pouco depois, pousou os documentos (tinha aberto a mala do carro) no mesmo sítio. Peguei neles, e de imediato, quase aos gritos, exigiu que eu os colocasse de novo no tampo da mala. Recusei. Note-se que me mantinha no mesmo local, não me afastei. Quando lhe disse que devia usar luvas, vociferou, visivelmente alterado: ”E quem as pagava? Era eu, não?”
Expliquei-lhe que esse era um problema da sua Corporação.
Eu aguardava a emissão do auto (palavra de grande carinho para os agentes)! O “Chefe” disse-lhe então: “não digas mais nada porque ele o que quer é que a gente faça alguma coisa para depois se ir queixar”!
A falta de respeito pelo cidadão por parte de gente que me envergonha enquanto português, que enverga a farda azul da PSP e que deviam honrar, é confrangedora. Afinal, não era a Pandemia que os movia. A caça à multa era a “Ordem” vinda, talvez, de “cima”.
Felizmente que há gente de bem em todas as forças policiais e já encontrei muita. Mesmo os que já me multaram. Porque quando reconheço razão, calo-me e pago como todos os outros. E nem sequer faço a contestação que centenas ou milhares usam para ganhar tempo ou não pagar. ´
A má-fé ficou ainda mais visivel instantes depois quando me pergunta se eu queria assinar o “Auto”. Perguntei, e se não assinar? “Então, só assina se quiser”. Insisti na pergunta. Para testar a minha desconfiança, disse que não assinava. De modo brusco agarrou nos papéis e chama o outro agente que iria servir de testemunha e mais isto e aquilo … Afinal, haveria consequências. Eu tinha o direito de as saber e o “Chefe” recusou elucidar-me.
Claro que assinei o Auto.
Mas a minha condição de jornalista apenas me deve permitir deixar aqui o alerta. Há gente desta que não é de confiança. São mais bárbaros que outra coisa e conspurcam a imagem da Polícia de que afinal todos necessitamos e devemos respeitar.
E envergonham o País e os cidadãos de bem. Serem expulsos, era o mínimo. Mas o seu Ministro é tão competente como muitos destes indivíduos que escolheram a profissão errada. Querem ser respeitados? Muito bem. Deixem de pensar que a soberba e a falta de educação vos traz maior respeitabilidade. Perdem a dignidade e mostram triste falta de inteligência e de preparação para o desempenho de funções.
Ajudem o País e as pessoas nesta fase tão crítica. Os vossos “Chefes”, até ao topo da hierarquia, são os primeiros responsáveis. Ainda não perceberam a mudança que está a ocorrer no Mundo.