A expressão VUCA tem sido frequentemente replicada em contexto empresarial para fazer face à volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade que caracteriza o mundo em que vivemos. Ainda assim, apesar de terem surgido alguns sinais de alerta, parece ser consensual que a crise de saúde pública provocada pela COVID-19 alcançou proporções imprevisíveis e inimagináveis.
Mas como se explicam os casos de sucesso e de insucesso? As respostas serão seguramente questionáveis, muitas vezes controversas, por vezes injustas e utópicas. Optou-se por partilhar com os leitores algumas percepções, medidas implementadas e conclusões alcançadas enquanto membro da equipa multidisciplinar de gestão de crise, constituída pela Moneris para apoiar as empresas e organizações neste contexto adverso.
Para fazer face à quebra abrupta de facturação em muitos sectores de actividade, como são exemplo a Hotelaria, Restauração, Agências de Viagens, Eventos, entre outros, destacam-se duas temáticas que parecem ser fundamentais para elencar muitas das preocupações e intervenções das empresas e organizações. Refiro-me à temática do emprego e da tesouraria, dando maior foco infra à primeira.
I – EMPREGO
Uma das maiores prioridades dos empresários e dos gestores de pessoas consistiu em proteger os postos de trabalho e evitar o recurso à cessação dos contratos de trabalho.
Para dar resposta a este desafio, reunimos um conjunto de especialistas e parceiros jurídicos com experiência e know-how na área laboral, para definirmos em conjunto a melhor estratégia para endereçar as dificuldades provocadas pela crise COVID-19 na estrutura de pessoal e proteger os postos de trabalho.
A título de exemplo, destacam-se as seguintes medidas:
- Recurso aos diversos mecanismos de lay-off que permitiram a suspensão/redução dos períodos normais de trabalho;
- Celebração de acordos para antecipar o gozo de férias;
- Implementação do regime de adaptabilidade;
- Optimização do plano de compensações e benefícios;
- Partilha regular de informação de suporte à tomada de decisão, através de resumos diários (Daily-COVID-19) e de publicações especializadas;
- Elaboração de análises de custos, desvios, simulações e previsões de gastos e encargos com pessoal;
- Criação de planos de formação apoiados pelo IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional);
- Apoiar o trabalho remoto através da implementação de ferramentas informáticas em ambiente cloud;
- Projecto TeamLoan: plataforma que permite às empresas afectadas pela pandemia de COVID-19 fazer um encontro de oportunidades para partilhar equipas temporariamente.
II – TESOURARIA
A tesouraria é um instrumento de gestão financeira fundamental, por isso a definição de uma estratégia que assegure quebras de fluxos de caixa é essencial para ultrapassar momentos de crise, de quebras de facturação ou de dificuldades de recebimento. A quebra de facturação e a deterioração dos prazos médios de recebimentos provocaram fortes restrições às empresas no cumprimento das suas obrigações financeiras.
Neste sentido, a equipa de apoios e incentivos, apoiada pelos consultores de Recursos Humanos e contabilistas, tem sido muito relevante na implementação das seguintes medidas:
- Candidaturas a linhas de apoio à tesouraria criadas no contexto da pandemia;
- Candidaturas a linhas de crédito;
- Candidaturas ao programa ADAPTAR;
- Fraccionamento do pagamento de impostos;
- Negociação de planos de pagamento com credores;
- Adesão a moratórias de créditos. A evolução da pandemia parece continuar imprevisível, o que poderá originar a necessidade de implementação de restrições adicionais e, consequentemente, maiores dificuldades às empresas. É por isso imperativo que as empresas sejam capazes de se reinventar e de reter as melhores pessoas com vista à sua sustentabilidade e prosperidade.
Há algumas décadas que os gestores de pessoas têm reclamado um lugar estratégico no seio das organizações e o contexto que vivemos parece ter contribuído de forma positiva para isso. Muitos dos exemplos supramencionados foram conduzidos e/ou apoiados por gestores de pessoas, num curto espaço de tempo e com resultados excepcionais, consolidando o seu papel enquanto parceiro de negócio.
Naturalmente, estamos num processo ongoing, porventura longe de estar concluído, mas com sinais evidentes de que a valorização das pessoas, bem como a implementação de políticas e práticas personalizáveis são fundamentais para a sobrevivência e a sustentabilidade das empresas e organizações.